domingo, 3 de novembro de 2013

Educar pela pesquisa



EDUCAR PELA PESQUISA – articulando conceitos

O mundo globalizado vem desafiando a cada dia a capacidade do docente em trabalhar conteúdos que os alunos entendem como não importantes.  Diante de Celulares potentes, Ipods, tablets, outros. O professor em sala de aula fica impotente.
Na maioria das vezes os alunos vão para a escola para encontrar com os amigos, bater papo, “negociar”. Não para assistir aula.  Formadores do Ambiente Virtual, 2012, dizem que “essa realidade caótica, porém, pode ser problematizada e mudada pelos educadores a partir de propostas que visem ao mesmo tempo explorar o turbilhão de informações que esses jovens recebem todos os dias e trabalhá-los para que a arte do pensar seja neles exercitado” (avaiat, p.1)
Pensando nesta lacuna deixada na educação atual, estudiosos do século XXI observaram que o estudante dessa época gosta de operacionalizar, pois a rapidez com que pensa e age não permite que fique sentado em uma sala de aula, olhando passivamente o seu “mestre” falar cinquenta a cem minutos.  
Pedro Demo, 2010, mostra uma pesquisa que o aluno só consegue ouvir bem apenas por vinte minutos.  Sendo assim, a melhor maneira de atrair este aluno à sala de aula é educar pela pesquisa. A esse respeito Avaiat, 2012, mostra que, além de ter o aluno como parceiro, “a pesquisa como princípio educativo é, sem sombra de dúvidas, uma das possibilidades de conduzir a educação básica no Brasil ao crescimento econômico, através do incentivo e da aproximação dos jovens do mundo das ciências.” ( p.1)
 Pensando nos pilares da educação para o século XXI é o aprender a fazer, fazendo; já que as descobertas, inovações, os avanços pertinentes a este momento social estão ligados ao movimento, a ação. Os jovens de hoje são os construtores de seu próprio conhecimento. Mas a informação não significa conhecimento. É preciso que sob o monitoramento do professor, essa diversidade de informações seja solidificada em conhecimento pela pesquisa científica.
O vídeo apresentado em Salto para o futuro, que trata sobre “educação e investigação científica”, mostra o aluno como sujeito da própria aprendizagem: “o aluno tem que entender o que está fazendo” (França, 2011). Para Demo, 2010, o aluno deve ser o pesquisador, não o repetidor do que o professor diz. O aluno que pesquisa aprende, o outro some “na vala comum”.
O projeto “Mão na Massa” apresentado no programa Salto para o futuro traz os princípios básicos propostos por Demo, 2010, estimula a busca do conhecimento. O questionamento faz parte de investigação. Há acolhimento às respostas dadas, pois “o melhor resultado não é quando o aluno chega a uma única resposta correta, considerada correta pelo professor, mas que ele (o aluno) elabore possibilidades.” (França, 2011)  
Outros aspectos importantes sobre o educar pela pesquisa são trazidos dados por Paulo Rosa, 1995, que questiona a forma como as feiras de ciências eram (e são) construídas e apresenta um objetivo claro, entretanto um conceito nada convencional do que se tem visto em autores mais tradicionais,

A feira é simplesmente uma mostra para a comunidade de algo que já foi feito pelos alunos ao longo de determinado período de tempo e deve ser um reflexo dos trabalhos escolares em Ciências. A feira existe porque existem os trabalhos e não o contrário: trabalhos a serem realizados porque vai haver uma feira. (p. 224)

 O trabalho realizado pela professora Dara desmitifica a ideia de muitos professores que os alunos elaborando em sala de aula não aprende, ao contrário, instrui. Segundo França, 2011, “aluno que é submetido ao método de investigação científica melhora o rendimento,” pois que “de acordo com a percepção reconstrutivista, a educação é um processo dinâmico que precisa ser contínuo e instigador, tendo como suporte a noção do sujeito que se emancipa através de sua consciência crítica e da capacidade de elaborar propostas, de criar.” (Avaiat, 2012, p. 3)
Assim, o trabalho desenvolvido pela equipe do Colégio Heitor Villa Lobos, apresenta os princípios sugerido por Rosa, 1995. Adequação ao Currículo – era uma atividade programada no componente da aula dada pela professora Dara para uma aula sobre a água; há uma regularidade – o professor programou, não fez a experiência em última hora; a pesquisa como elemento educativo – houve a aplicação dos procedimentos científicos adequados: observação, medição, análise, levantamento de hipóteses, tomada de decisões, obtenção de conclusões.
 Os alunos descobriram os resultados a quem se propuseram. Pois, “desenvolver os processos de ensino e aprendizagem utilizando a pesquisa como modalidade didática significa desenvolver os processos educacionais com o intuito de favorecer a formação de alunos críticos e autônomos, capacitando-os para intervir na realidade com qualidade formal e política.” (Avaiat, 2012, p. 7)

Genilda Melo
Graduada em Letras, especialista em Estudos Comparados em Literaturas de Língua Portuguesa, especialista em Gestão Escolar, Mestranda em Educação.


REFERÊNCIAS


AVIAT. Fundamentos e práticas da educação científica. http://eadiat.sec.ba.gov.br/mod/book/view.php?id=13815 . abril de 2012.

DEMO, Pedro . Educar pela pesquisa.  http://www.youtube.com/watch?v=Vra4hclt7kw  09.11.2010

FRANÇA, Carlos.  Educação e Investigação. http://www.youtube.com/watch?v=R6qVI7zLf3o&feature=player_embedded . 30.05.2011

ROSA, Paulo Ricardo da Silva. Algumas questões relativas a feiras de ciências: para que servem e como devem ser organizadas. Cad.Cat.Fis., v.12, n.3: p. 223-228, dez. 1995.
RESENHA



DEMO, Pedro. Educação Científica.B.Téc.Senac a R. Educ Prof. Rio de Janerio, V.36, n. 1, jan. / abr. 2010.


O texto traz um resumo inicial mostrando que a educação científica é vista como uma das habilidades do século XXI, por este ser marcado pela “sociedade intensiva do conhecimento”. Pontua o ensino Médio e Técnico como fio de trajetória para este conhecimento.  Dá ênfase não apenas na reconstrução técnica, mas nas habilidades que cada sujeito de aproveitar a oportunidade que lhe vier às mãos.  Mostra que é um desafio a autoria individual e coletiva, mas podermos ser bem assessorados se soubermos interagir no ambiente virtual, pois para construir oportunidades é mais viável não depender dos outros.
Na introdução do texto o autor faz uma critica ao modismo em que se gerou, no século XXI, o termo a educação científica propalado por diversos escritores: “educação científica” ou “espírito científico”; e igualmente de “educação matemática”, assim como, as noções de “alfabetização científica”; sobre “novas alfabetizações” que ultrapassa o ler, o escrever e o contar para corresponder a sociedade intensiva do conhecimento. Sustentando a ideia de que o próprio conhecimento é que faz a diferença entre o ranking entre os países. Demo argumenta que a “educação científica vem muito antes das habilidades do século XXI”, mostra que as universidades investem na pesquisa (diferente do ensino) e que o professor “se define pela autoria[..] não pela aula” (p.15). Assevera a crítica aos países latinos em que não incentivam a produção científica, mas estimula jovens que vão ao sucesso profissional sem estudar, a exemplo de jogadores de futebol, cantores e atores.
Demo apresenta referenciais teóricos consolidam a sua ideia sobre educação científica. Começa pela “sociedade intensiva do conhecimento”. Caminha na história e mostra que nos anos 90 já se preocupava em aproximar “educação e conhecimento da transformação produtiva”, com enfoque na habilidade de competir no mercado. Mostra as grandes vantagens dos países avançados, mas que só acontece com o conhecimento produzido “por iniciativa própria”. (p.16).  
Comenta que não há possibilidade de se transferir ciência e tecnologia, pois o mercado é mutável. O mais viável é produzir conhecimento dentro de suas próprias plataformas, investir nas “universidades de pesquisa. Enfatiza que mesmo os professores que são “empurrados” para programas de iniciação a docência, terminam caindo na reprodutiva transmissão de conteúdos. “Na prática [..] oferece-se um pacote fechado que alinha escolas, professores e alunos de modo reprodutivo tacanho.a maior conseqüência é que os professores não “sabendo aprender bem, não conseguem que seus alunos aprendam bem.” Isenta esses profissionais de culpa, pois que a má formação faz parte do “imbróglio” marcado na história do país(p.17)
A educação científica se apóia, na expectativa da sociedade intensiva do conhecimento, em que a produção de conhecimento inovador se tornou, tanto mais, o divisor de águas em termos de oportunidades de desenvolvimento, não em uma “competitividade destrutiva”, mas “tomando educação com referência”. Isto deve começar nas escolas “devotadas a práticas reconstrutivas do conhecimento e puxadas por professores autores.”  O autor dá ênfase aos ambientes virtuais de aprendizagem ( Wikipédia e blogs) que têm motivado os participantes a produzirem conhecimento.(p.17)
“CONHECIMENTO CIENTÍFICO”
            O autor comenta que a educação científica advém do conhecimento científico, que em termos discursivos não há um consenso. Informa que é comum considerar ciência como “questão de método: um texto metodologicamente correto [..] que realça modos ordenados, lineares, procedimentos e formais de construção de texto”. Ele chama isto de “ditadura do método”. Esses componentes trazem a pretensão de universalidade, verdades inquestionáveis, mas ignora a “historicidade” e  “politicidade “(p.17)
Em oposição há, dentro das próprias ciências exatas, módulos alternativos. Um dos mais atuantes foi a “formulação do Teorema da Incompletude de Godel, na década de 30 do século passado, mostrando que a matemática também não poderia ser formalizada até o fim, ao conter proposições não decidíeis no próprio sistema.” (p.18)
Nas ciências humanas aparece uma defesa, no mundo virtual, sobre a linguagem ambivalente, porosa e maleável: “os códigos digitais, mesmo que exatos, sempre deixam brechas naturais.” (p.18) Demo chama atenção para o êxito da versão positivista da ciência, pois esta “produziu as tecnologias – troféus maior do eurocentrismo.
Comenta que “as tecnologias são lineares, tipicamente analíticas e nisto confiáveis: nada é mais confiável do que aquilo que se repete. Informa que o conhecimento científico também apresenta versões. A verdade universal não é mais aceita, “porque não passa de pretensão de validade”; a ciência no pós-moderno traz a sua discutibilidade (Demo,1995; 2000) Mostra também a incoerência metodológica praticada pelo positivismo desde o fim da Idade Média, onde “ o carro-chefe sempre foi a ciência, perdeu o aumento de autoridade: questinou e derrubou todas as autoridades e fez-se “ autoridade inconcussa”. (p. 19)
EDUCAÇÃO CIENTÍFICA
Neste tópico, Demo enfatiza que a educação científica não é uma ideia consensual, Mas ao olhar os alunos com baixo rendimento em matemática, há uma tendência em promover campanhas e outras iniciativas para que se faça a formação do aluno com a participação científica. Neste sentido há “adotado nos ambientes virtuais de aprendizagem, o processo formativo ocorre conjuntamente com o processo de construção do conhecimento, uma noção que se tornou conhecida entre nós como educar pela pesquisa” ( Demo,  cita ele próprio, obra de 1996 e Galiazzi, 2003). Mas na visão educacional, é urgente, recuperar o atraso na esfera das ciências observando as diversas dimensões: estrutural, docente e discente.
Demo enfatiza a importância de ter o domínio das habilidades do século XXI, que entre elas, é “lidar bem com o conhecimento científico”. Faz o “desafio das oportunidades de desenvolvimento”, já que se vive em uma sociedade marcada intensivamente pelo conhecimento. Chama atenção para a dualidade entre países que investem na pesquisa e detêm o conhecimento inovador e os que apenas copiam.
A “educação científica soa como apelo – já um tanto desesperado”. Pondera  que não se pode retirar um atraso científico com “propostas eventuais,  porque o problema é estrutural: formação docente e discente.  Mostra ser um grande equivoco um país querer importar “plataformas tecnológicas de países avançados,” o melhor é cuidar que os alunos aprendam bem na escola”. (p.21)
Orienta que se devam aproveitar as “chances de formação mais densas em áreas científicas e tecnológicas, universalizar ao cesso ao conhecimento, não só ao aluno “vocacionado”, mas a todos, para despertar o interesse pela” ciência e tecnologia”, em especial, persistir no “estudo e na pesquisa”. (p.21)
A inclusão digital” deve ser prioridade, já que significa inclusão social, Deve-se também “trabalhar com afinco a questão ambiental: a degradação e o bom uso da tecnologia para a preservação. Critica a postura da educação brasileira: “enquanto algumas sociedades capricham na formação dos filhos, fazendo do lar um laboratório de estudo [..] entre nós persiste ainda a noção medieval de deveres de casa, em geral voltadas para reproduções simplórias”. Simploriza, a noção brasileira de Educação Integral e considera que apenas se estica o tempo de aula, visão instrucionista. Rememora a idéia de esses processos não atendem a sociedade intensiva de conhecimento e conclui: “o País precisa aprender a estudar e a pesquisar.” (p.21)
ALGUMAS CONDIÇÕES
Nesta parte final do texto, o autor mostra algumas condições para que a educação científica na escola cause impacto.
Primeira condição -  é preciso criar “outras estratégias de aprendizagem que não sejam instrucionais e reprodutivas”; o conhecimento copiado é plágio; é imprescindível valorizar a “pesquisa e a elaboração, autoria e autonomia”; “unir qualidade formal e política”; “a pesquisa começa na infância, não no mestrado!” (p.22)
Segunda condição – “refazer a proposta de formação docente”. Sistema marcado pela má formação dos docentes; Exemplifica com as universidades. Ironiza: “saem de lá a imagem e semelhança”. Acolhe a ideia de que não se deve “empurrar para os ombros dos docentes qualquer culpa, por que são vitimas flagrantes deste sistema” Sugere rever as licenciaturas e as pedagogias;“retirar a docência básica do rol de profissões secundárias e colocá-la a serviço “estratégico da sociedade”. Valorizar o perfil do educador com “autoria (p.22)
Terceira condição – “a transformação da escola em laboratório de pesquisa e produção do conhecimento”, pois, “grande parte do professores tem dificuldade de entender-se como pesquisadores; “torna-se mais exótico imaginar um aluno – espera-se dele que escute a aula, tome nota e reproduza na prova; não se tem leitura como parte da aprendizagem.” “As escolas não são locais da ciência e da tecnologia [..] o desafio maior não é a escola. É o professor. Quem faz da escola um laboratório científico é o professor que sabe produzir ciência” (p.22)
Quarta condição – a maior delas- “transformar os alunos em pesquisadores”. O autor dá ênfase nas plataformas virtuais, como Wikipédia que para aprimorar nos participantes procedimentos científicos, desde os mais formais (como se formata um texto) até os essenciais (como se faz um texto crítico e criativo); plataformas web 2.0 motivam participantes a produzirem seus texto se comentarem; a discutirem online.
Faz um chamamento a sociedade: “fazer de educação científica um compromisso do processo de aprendizagem escolar, orientado por professores capazes de produzir conhecimento científico.” Conclui o texto com a metáfora: “de pouco vale colocar vinho novo em garrafa velha” (p 23), inferindo que será inútil introduzir mudanças nos processos educacionais se o sistema não passar por transformações estruturais.  

Genilda Melo
Graduada em Letras, especialista em Estudos Comparados em Literaturas de Língua Portuguesa, especialista em Gestão Escolar, Mestranda em Educação.